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A Falta de Representatividade da Pessoa com Deficiência na Sociedade

Eu sou a blogueira Gata de Rodas, uma mulher cadeirante, bissexual, formada em Ciências Contábeis, palestrante militante e ativista pela causa da pessoa com deficiência e da diversidade sexual. Desde 2020 sou Diretora Suplente da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT) onde atuo na área de consultoria sobre assuntos pertinentes a pessoa com deficiência e no planejamento de estratégias de acessibilidade e inclusão das PcD nos eventos da Associação.

Eu tive poliomielite aos 6 meses de nascida que me deixou com algumas sequelas e uma delas foi a de não poder andar com os meus próprios pés, mas depender de uma cadeira de rodas para me locomover, não impediu que eu corresse atrás dos meus sonhos e objetivos e trabalhar para ter a minha independência financeira sempre fez parte do meu projeto de vida.

Por muitos anos trabalhei no mercado informal de artesanatos e só em 2007 consegui, através da Lei de Cotas, me inseri no mercado formal trabalhando como operadora de telemarketing numa conceituada empresa de telecomunicação. Com o salário que eu recebi, custeei, sobretudo, a minha tão sonhada faculdade.

Hoje já me encontro no meu segundo emprego pela Lei de Cotas, mas antes, foram quatro longos anos fazendo parte das estatísticas de pessoa com deficiência à disposição do mercado formal de trabalho.

O Censo 2010 realizado pelo IBGE pontuou cerca de 45 milhões de pessoas com algum grau de deficiência no Brasil, número este que representa 24% da nossa população sendo que muitos estão aptos, mas se encontram fora do mercado de trabalho.

Para equiparar oportunidades e contrabalancear possíveis desvantagens, foi criada a Lei da Cotas para pessoas com deficiência (Artigo 93 da Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991).

No entanto, segundo a última Relação Anual de Informações Sociais (RAIS)/2019 do Ministério do Trabalho, há somente 486.756 trabalhadores com deficiência no mercado formal de trabalho, o que representa menos de 1% dos empregados brasileiros com deficiência com carteira profissional assinada.

Como em um jogo de gato e rato, enquanto o Estado não cumpre com rigor a sua parte de fiscalização, as empresas continuam praticando a discriminação e a exclusão da pessoa com deficiência do mercado de trabalhado burlando a lei alegando não acharem pessoa com deficiência qualificada, não “quebram” as barreiras atitudinais e arquitetônicas existentes e continuam perpetuando o capacitismo cultural ao associar deficiência como sinônimo de ineficiência e despesa.

Porém, se é inegável que houve avanços mesmo diante desse quadro, percebe-se por outro lado, que é incontestável que o mercado de trabalho formal ainda é muito excludente para pessoas com deficiência, cujo o custo de vida chega a ser 40% mais alto que o de uma pessoa sem deficiência.

Entretanto, a importância do trabalho para pessoa com deficiência vai além dos benefícios que o lado financeiro oferece. Para esse profissional é também uma forma de se sentir útil, produtivo e necessário, uma oportunidade de interação com outras pessoas, de pertencer a um grupo social, de se tornar visível na sociedade.

Invisibilidade essa que acontece por falta da participação da pessoa com deficiência no próprio meio em que vive, seja ele o mercado formal de trabalho ou até mesmo os eventos públicos.

Em 2016 eu fui à Parada LGBT+ de São Paulo pela primeira vez. Eu fui apenas para conhecer e o que chamou mais a minha atenção foi a falta da representatividade da pessoa com deficiência ocupando aquele espaço.

Em contato com Associação da Parada do orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT) eu apresentei o meu projeto de inclusão da pessoa com deficiência na Parada e a Associação prontamente abraçou a causa.

Além de promover a inclusão e acessibilidade, era preciso quebrar o tabu da sexualidade que infantiliza e santifica as pessoas com deficiência, como se não tivéssemos orientação sexual, identidade de gênero, desejo, prazer, tesão.

Era preciso também por abaixo a corponormatividade e mostrar que o lugar dos corpos que fogem dos padrões socialmente estabelecidos é onde eles querem estar.

E foi assim em um momento histórico que em 2017 as pessoas com deficiência abriram pela primeira vez a Parada LGBT+ de São Paulo, a maior de mundo. Feito esse que se repetiu com sucesso em 2018 e 2019.

Em 2020 e 2021 a Parada aconteceu de forma virtual, com lives, devido à pandemia de Covid-19, e mesmo assim a pessoa com deficiência marcou presença.

Depois de dois anos, a Parada retomou a seu formato presencial na Avenida Paulista. Com muito orgulho as pessoas com deficiência voltaram a abrir o megaevento em 2022.

Quando resolvi levar as pessoas com deficiência a Parada LGBT+ me falaram que era muito arriscado, afinal o evento reúne em média 3 milhões de pessoas, mas como Max Weber disse: “A História ensina-nos que o homem não teria alcançado o possível se, muitas vezes, não tivesse tentado o impossível”. Além do mais e principalmente é também nosso direito. Como dispõe o artigo 4° da Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015): “Toda pessoa com deficiência tem direito a igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”. Pronto, falei!

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