o papel determinante do RH no retorno ao trabalho das colaboradoras

Licença maternidade: o papel determinante do RH no retorno ao trabalho das colaboradoras

Por Maristela Marquiafave

Diretoria de Conteúdo do Squad de Compliance e Boas Práticas do HUBRH+AAPSA

É uma sensação estranha. Quem precisou, em algum momento, conciliar carreira e maternidade já sentiu na pele o baque do retorno ao trabalho após o término da licença. Independente da condição e do ambiente em que mãe e filho se encontram, da existência ou não de redes de apoio, do local de trabalho, do momento da carreira, esse é um marco de emoções misturadas, pensamentos desconexos, desafios, rupturas, culpa, entre outros sentimentos. É, na verdade, um verdadeiro recomeço de vida, que pode ser doce ou bastante amargo.

Nos dias atuais, é natural que cada vez mais mulheres busquem posições de destaque e de relevância no mundo corporativo. Por outro lado, o fantasma da conciliação entre maternidade e carreira é algo recorrente, principalmente entre as mulheres mais maduras. Muitas postergam o projeto de ser mãe pelo fato de ainda estar em plenas condições de saúde, relacionamentos e situação financeira muitas vezes mais favoráveis e no auge de sua força e potência, mesmo se enxergando mais preparadas para viver esse momento maternal.

Mas se de um lado ainda existe esse desejo e as boas condições para se encarar o projeto maternidade, do outro se encontram as responsabilidades grandes das carreiras, as disputas de espaço e o fantasma da competitividade em sua forma mais intensa, o fenômeno da “juniorização” da mão-de-obra em muitas empresas, o triste cenário de remunerações em valores inferiores aos homens — que de fato ainda ocorre — e, com tudo isso, o receio e o risco real da perda do posto de trabalho.  

Recentemente li um relato de uma mulher que na semana em que voltou de sua licença maternidade ouviu do gestor imediato em uma reunião: “que bom que voltou, mas agora você precisa escolher entre ser mãe, esposa ou parte da nossa equipe, pois as três coisas tenho certeza de que você não pode ser”.

A frase pode soar absurda, mas é real e ainda acontece de forma bem ampla. E por quê, já que é justamente nessa hora que as mulheres precisam estar respaldadas com seus empregos? Não é somente durante o período de estabilidade assegurado em lei que essa “tranquilidade” deveria existir, já que isso não seria suficiente para cumprir com a função social e responsabilidade das empresas perante essas profissionais e suas famílias e nem tampouco para manter a dignidade das profissionais atuantes no mercado de trabalho.

Muito pelo contrário, arrisco dizer que o período que sucede a licença maternidade é ainda mais difícil para as mulheres do que o tempo de afastamento em si, e que merece uma maior atenção. Foram quatro ou mais meses de vivência plena nas funções e rotinas maternas, estando as mulheres em pleno contato com os novos membros de sua família, em situação de total dependência destes seres tão vulneráveis. Com isso vem juntas todas as cobranças no retorno, de ter que ser boa mãe e profissional, conciliar múltiplas jornadas e, se necessário, abdicar de si mesma para dar conta dessa vibrante missão.

Mas vale lembrar, infelizmente, que um estudo feito há pouco mais de um ano pela FGV mostrou que são muito relevantes os números do desemprego nos 12 meses após a saída em licença maternidade: 35% para mulheres com níveis de instrução mais elevados e 51% para as de menor escolaridade.

Por essa razão e para que a estatística possa ser revista em nossa sociedade, as áreas de Recursos Humanos das empresas têm um papel fundamental nessa delicada tarefa. São estes profissionais os responsáveis por criarem em suas empresas um ambiente acolhedor e seguro para a colaboradora gestante, bem como prover o necessário suporte durante a gravidez, garantindo o acolhimento e a integração da mulher após a licença.

Com isso, as mães-profissionais podem ter maior tranquilidade para se adaptar à nova realidade e, paralelamente, cuidarem da saúde de seus bebês na primeira infância, o que pode inclusive ter reflexos positivos na sociedade como um todo, já que estudos evidenciaram que crianças que não tiveram afeto nos primeiros anos de vida respondem por boa parte da violência social e da criminalidade.

A boa notícia é que cada vez mais empresas em todo o mundo, inclusive no Brasil, focam em diversas formas de gestão do lado humano, fazendo toda a diferença para que as mulheres busquem e mantenham seus empregos nestes ambientes mais preocupados com sua gente. Finalizo compartilhando minha empatia e sentimento de sonoridade e que bom podermos contar com exemplos de organizações que nos acolhem e que tornam o momento mágico da maternidade em uma fase doce e sem crises, permitindo que as novas mães exerçam seus papeis profissionais de forma plena.

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